• COLESTEROL: MAIS QUE ALÉM DA META.

    15 de fevereiro, 2014

    É sabido o grande número de mortes por doenças cardiovasculares no  mundo, que passam a acometer cada vez mais pessoas jovens ou velhas, de qualquer classe social, sexo ou raça. Os números alarmantes, as estatísticas epidemiológicas de morte por estas causas, cada vez maiores, fazem com que órgãos competentes do mundo inteiro se envolvam em pesquisas e forças tarefa, no intuito de prevenir e tratar estas doenças.

    Como sabemos, os níveis de colesterol no sangue são fatores determinantes para aterosclerose, o que é causa direta para acidentes vasculares cerebrais e infarto do miocárdio. Estes, quando não matam deixam sequelas graves e incapacitantes, levando a grandes prejuízos tanto financeiros, quanto de qualidade de vida para as pessoas acometidas,  suas   famílias e o estado.

    Recentemente terminou um grande trabalho com, uma nova diretriz de tratamento para as dislipidemias, ou seja, para tratar os níveis elevados de gordura no sangue.

    Nos EUA, o Colégio Americano de Cardiologia (ACC) e a Sociedade Americana do Coração ( AHA), tem como objetivo a prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares, e a elaboração de políticas,  normas e diretrizes que promovam a saúde cardiovascular.

    Em 2013, juntamente com o Instituto Nacional Americano do Coração, Pulmão e Sangue (NHLBI), profissionais e entidades especialistas no assunto,  a AHA E ACC, concluiu importante estudo iniciado desde 2008, estabelecendo novas metas e diretrizes  clínicas confiáveis para o tratamento do aumento de colesterol e prevenção primária e secundária da doença aterosclerótica.

    Foi feita uma rigorosa revisão em diversos estudos já previamente publicados, discutiu-se questões críticas e conflitantes, pontos controversos existentes nos vários estudos selecionados, e disso saíram as novas recomendações que mostramos a seguir.

    Como o estudo feito, teve como ponto de corte as publicações até 2011, já está sendo feito uma nova atualização agora em 2014.

    Toda a revisão foi feita com base em evidências da mais alta qualidade disponível, e tirada de ensaios clínicos controlados e randomizados, meta-análises e estudos observacionais rigorosamente avaliados pela sua qualidade metodológica.

    Em  vez de metas, para níveis de colesterol LDL e HDL, essa diretriz visa qual a intensidade  do uso de medicamentos,  de como as estatinas ( remédios que baixam o colesterol), devem ser usadas, e quando e em quais grupos. O objetivo é a redução dos desfechos finais, e não apenas o nível do colesterol no sangue.

    Depois de rigoroso processo de seleção, foram separados quatro grupos de pessoas que foram muito beneficiadas pelo tratamento com estatinas com doses moderadas e altas com segurança, nos quais houve uma redução de eventos cardiovasculares. Para estes grupos então, deve-se tratar precocemente, além de se recomendar as mudanças no estilo de vida. As diretrizes foram elaboradas para indivíduos  com 21 anos ou mais.

    Os quatro grupos que se beneficiaram com o uso de estatinas:

    1-Indivíduos com doenças  aterosclerótica cardiovascular já estabelecidas (doenças coronarianas, derrames e doença vascular periférica).

    2-Indivíduos com elevação primária de LDL colesterol >190mg/dL.

    3- Indivíduos de 40 à 75 anos com Diabetes e LDL colesterol entre 70 e 189 mg/dL, SEM doença aterosclerótica cardiovascular existente.

    4-Indivíduos sem doença cardiovascular existente ou Diabetes, de 40 à 75 anos de idade com LDL colesterol entre 70 e 189 mg/dL, que tenham um risco calculado de ter uma doença cardiovascular em 10 anos de 7,5% ou maior que isso; ( esse risco é calculado através de fórmulas e equações – Polled Cohort Equations – disponíveis por especialistas  do grupo envolvido chamado de Grupo de Prevenção de Riscos). A estes indivíduos devem ser inicialmente recomendados a dieta e exercícios, mas viu-se que a introdução precoce do uso de estatinas, reduz o perfil global dos fatores de risco.

    O  foco  principal deve ser o grupo de pacientes com maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, pois é o que mais irá se beneficiar com o tratamento com estatinas. Isso sem dúvida reduzirá muito o número de desfechos finais,  fatais e não fatais, ou seja, as mortes causadas por doenças cardiovasculares e as sequelas daquelas que são acometidos irreversivelmente.

    Para nós médicos clínicos e especialistas na área, essas diretrizes representam uma mudança nas recomendações anteriores, no entanto por ser esta última a mais atual e recente publicada (ainda on line), e baseada em estudos observacionais de alta qualidade, meta-análises e estudos randomizados controlados sérios e de um rigor científico inquestionável, não há , a nosso ver, como não seguir. No entanto, o julgamento clínico pessoal de acordo com nossa experiência e bom senso, aliados a cada caso em particular, devem ser respeitados.

    Você como paciente, deve consultar seu médico e ver em qual destes grupos você se encaixa, para ver qual o melhor tratamento que deve ser prescrito para você.

     

    Prof. Dra . Lizanka Marinheiro

    Prof. da Pós-graduação em Pesquisa Clínica Aplicada em Saúde da Mulher e da Criança

    Prof. da Pós-graduação em Saúde da Mulher e da Criança

    Chefe do Setor de Endocrinologia

    Instituto Nacional da Criança Mulher e Adolescente Fernandes Figueira

    FIOCRUZ

     

    Fonte:

    Manuscrito Aceito para publicação

    Stone NJ, et al

    2013 ACC/AHA Blood Cholesterol Guideline

    2013 ACC/AHA Blood Cholesterol Guideline on the Treatment of Blood Cholesterol to Reduce Atherosclerotic Cardiovascular Risk in Adults

    A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guideline

    To apeear in: Journal of the American College of Cardiology

    Reference: JAC 19596