• Exercício físico como estratégia não farmacológica no tratamento da depressão

    21 de maio, 2012

    Exercício físico como estratégia não farmacológica no tratamento da depressão

     

                Diversos trabalhos científicos corroboram o benefício do exercício no controle de várias doenças, como a doença arterial coronariana, diabetes, hipertensão arterial e alguns tipos de câncer. Recentemente houve um aumento significativo no número de publicações que apontam o beneficio da atividade física regular na prevenção e controle de doenças que afetam o sistema nervoso central. O objetivo deste artigo é apresentar algumas evidências do papel do exercício na redução dos sintomas da depressão e explicar os possíveis mecanismos fisiológicos envolvidos neste processo.

    A depressão é um transtorno do humor caracterizado por manifestações afetivas anormais que variam em relação a sua intensidade, freqüência e duração na ocorrência dos sintomas, que pode incluir desde sentimentos como tristeza, angústia, baixa capacidade de sentir prazer, isolamento social até alterações somáticas, envolvendo o sono, apetite, atividade motora e função sexual. Indivíduos diagnosticados com depressão apresentam redução da síntese de novos neurônios, diminuição do fluxo sanguíneo no cérebro, além do menor volume do hipocampo comparado com indivíduos sem a doença.

    Diversos tipos de tratamento auxiliam na redução dos sintomas desta doença. Uma estratégia que vem sendo utilizada é associar mais de um tratamento para controle dos sintomas, devido alguns indivíduos não responderem positivamente ao tratamento exclusivamente farmacológico. Desta forma, o exercício físico vem sendo visto como uma estratégia não-farmacológica para o controle dos sintomas da depressão.

    Knubben et al. (2007) realizou um estudo com o objetivo de avaliar o efeito a curto prazo do exercício em pacientes com depressão maior. Foram selecionados 38 indivíduos que foram divididos em grupo exercício e grupo controle. O grupo exercício realizou caminhada intervalada (3 minutos na velocidade correspondente a 80% FCmáx/3 minutos na metade da velocidade de estímulo), durante 10 dias. O grupo controle realizou 30 minutos de exercícios de alongamento e relaxamento pelo mesmo período. No final de 10 dias, o grupo que realizou caminhada reduziu 36% o escore para depressão, enquanto que o grupo de alongamento reduziu 18%. Conclui-se que o exercício produz benefícios a curto prazo em indivíduos com depressão.

    Blumenthal et al. (2007) realizaram um estudo com 202 indivíduos diagnosticados com depressão maior que foram divididos em 4 grupos: 1) exercício supervisionado; 2) exercício realizado em casa; 3) medicação antidepressiva (sertralina: 50 – 200mg/dia) e 4) pílula (placebo). O objetivo do tratamento era chegar a remissão (ausência de diagnóstico de depressão maior e redução significativa na sintomatologia depressiva). Ambos os grupos de exercício realizaram exercícios aeróbios entre 70 a 85% da FCmáx, três vezes por semana. A diferença é que um grupo realizou os exercícios de maneira supervisionada, enquanto o outro realizou a rotina de exercícios em casa, sem supervisão. Esta subdivisão foi realizada com o intuito de avaliar o efeito do suporte social na redução dos sintomas de depressão. Após 16 semanas de estudo, os autores observaram remissão de 45% no grupo de exercício supervisionado, 40% no grupo de exercício não supervisionado, 47% no grupo de medicação antidepressiva e 31% no grupo placebo. Os autores concluíram que o exercício físico é tão eficiente quanto a medicação antidepressiva no controle dos sintomas da depressão.

    Com o objetivo de avaliar a dose-reposta do exercício aeróbio na redução dos sintomas depressivos, Dunn et al. (2005) realizaram um estudo de 12 semanas com 80 indivíduos que foram divididos em grupo exercício de intensidade moderada (17,5 kcal/kg/semana – 2 ou 3x/semana), grupo exercício de intensidade leve (7,0 kcal/kg/semana – 2 ou 3x/semana) e grupo placebo (exercícios de flexibilidade – 3x/semana). Foram observadas redução na Escala de Depressão de Hamilton de 30% no grupo de que realizou exercício leve, 47% no grupo que realizou exercício moderado e 29% no grupo placebo. A partir destes dados é possível concluir que exercícios aeróbios de intensidade moderada promovem melhores benefícios que exercícios em intensidades menores ou exercícios de flexibilidade.

    Singh et al. (2005) observaram o efeito de exercícios resistidos (musculação) de alta (80% 1RM) e baixa (20% 1RM) intensidade, comparados com o tratamento tradicional para depressão (grupo controle) em idosos depressivos, durante 8 semanas. O grupo de alta intensidade apresentou melhor resposta clinica ao tratamento (61%), comparado ao grupo de baixa intensidade (29%) e ao grupo controle (21%). Houve uma associação entre o ganho de força e a redução dos sintomas de depressão. Além disso, o grupo de alta intensidade apresentou melhora nos índices de qualidade de vida e no sono. Baseado nos resultados deste estudo, realizar musculação em altas intensidades (3 x 8 repetições a 80% 1 RM) pode reduzir de maneira significativa os sintomas de depressão em idosos acometidos desta doença.

    Diversos mecanismos estão associados com a melhora dos sintomas depressivos após o exercício. Estudos realizados em ratos comprovam que o exercício aumenta a síntese de novos neurônios. Este efeito parece similar em humanos, onde há um aumento no número de neurônios no hipocampo decorrente do exercício. O exercício promove a liberação de diversas moléculas (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro, Fator de Crescimento Vascular Endotelial, Serotonina e β-Endorfina) que aumentam a neurogênese e a proliferação de células no cérebro adulto, contribuindo para redução dos sintomas de depressão (ERNST et al., 2006)

     

    É melhor cuidar da saúde do que cuidar da doença: Faça exercícios regulamente!

    Wallace Machado

    Personal Trainer

     

    wallacemachado@ufrj.br