• Sucesso médico: mérito do paciente

    20 de junho, 2016

    imageSemana que passou atendi uma paciente que conseguiu emagrecer mais de 20 kg em 6 meses. Como médica, isto faz parte de um tento bastante normal na minha clínica diária com muitos pacientes, já que tenho mais de 30 anos de formada. Uma história normal de sucesso de um caso, mas sucesso em quê, de quem e para quê? 

    Vivemos uma epidemia mundial de obesidade e esta é fator de risco para um sem número de doenças crônicas que são responsáveis por altos índices de mortalidade, tais como hipertensão arterial, dislipidemias e enfarto agudo do miocárdio. Logo, ter um peso normal para a idade e compleição física, além de estética e bem estar, é questão de prevenção e tratamento em saúde. Então, o que acontece em vários outros casos em que o mesmo médico, com o seu olhar e saber, não tem o mesmo resultado final com outros pacientes? Eis a questão. Falo aqui, não só de obesidade, mas de um controle em outras doenças.

    A medicina de hoje tem uma “corrente” que está doente! Encontramos colegas com um visão totalmente fragmentada dos seus pacientes, e mais, dentro das especialidades, sub-especialidades, o que faz com que o paciente fique muitas vezes a mercê de varias consultas, em vários profissionais, realizando uma série de exames, as vezes desnecessários e repetidos, e o pior, sem necessidade!

    A tecnologia não se discute, veio no último século para transformar e aprimorar todos os métodos diagnósticos. Pesquisas tanto em imagem quanto em biologia molecular e genética, trouxe à rotina médica diária, um sem número de exames que só veio ajudar como ferramentas úteis ao médico no seu trabalho diário,( isso nos grandes centros e aos que a esse tipo de medicina tem acesso). Muitos colegas, lamentavelmente, solicitam vários exames muitas vezes sem saber ao menos sua indicação e interpreta-los, onerando todo o sistema de saúde e/ou o bolso do paciente. O jovem médico sai despreparado da faculdade, em sua maioria optando por aprender alguma técnica e ou procedimento que lhe remunere mais que a consulta clínica.

    Por outro lado, vimos nos últimos 30 anos o aumento do número de faculdades de medicina, com currículos duvidosos e o empobrecimento das faculdades públicas com o sucateamento dos hospitais de referência, graças a crise política, social, ética e econômica que estamos vivendo há muito tempo!!!!

    E o paciente e sua cura?

    Primeiro, acho que a medicina quando muito bem exercida, e com um esforço e vontade grandes do paciente, não cura. Controla ( exceto aqui certos casos cirúrgicos e infecciosos).Você não cura diabetes, hipertensão etc, – controla. Acho que o paciente é o sujeito principal neste processo de melhora e estabilização de qualquer enfermidade. Sua vontade de ficar bom, suas crenças, sua determinação, sua informação sobre a doença em si, sua condição social, esta última, lógico, uma variável de vital importância em todo este processo. É muito difícil ter saúde na pobreza! 

    Atualmente há (  e fazemos parte dele), um crescente movimento mundial de Medicina Integrativa  com Sociedades já reconhecidas internacionalmente e ligadas ao Instituto de Saúde Americano, NIH. Há um crescente interesse em compreender  como os métodos as abordagens de medicina integrativa, podem promover e mudar comportamentos que ajudam as pessoas a terem mais saúde. Novas pesquisas estão sendo delineadas para saber como as pessoas, através de métodos simples como a meditação, entre outros, podem evitar problemas mentais e emocionais, e reduzirem a obesidade. Os estudos estão sendo  bem desenhados para serem desenvolvidos em grupos distintos de idade sexo, populações vulneráveis e minorias étnicas, raciais e sexuais, etc. O maior plano estratégico para este ano é explorar como a Medicina Integrativa  é capaz de unir a medicina complementar  de forma a contribuir na prevenção e promoção de doenças nos próximos  5 a 10 anos. 

    No caso desta paciente acima que me permitiu postar sua foto de antes e depois? De quem foi o mérito?

    Diria sem sombra de dúvida na maior parte, dela. E depois de uma medicina integrativa! Tentar estimular ao paciente praticar exercícios físicos rotineiramente, fazer uma alimentação equilibrada de forma simples e acessível, sem modismos e  com  conceitos da nutrição baseada em evidências, cuidar da pele e sua exposição excessiva  ao sol, saber respirar, identificar quais patologias precisam ser melhor investigadas e ou precisam ser encaminhadas para outro colega especialista, ter um boa relação com a equipe de trabalho quer no hospital que este paciente seja atendido, quer no sistema de saúde, enfim, colocar o paciente com ele próprio também como agente e sujeito de sua própria melhora.

    Claro que não deixamos de lançar mão de toda tecnologia necessária – exames de laboratório e  imagem, mas o maior agregador de valor sem  é o próprio médico. Seu olhar, seu ouvir, seu tocar. Digo todo dia aos meus alunos: nada substituiu a mão nem o olho humanos!

    Eu pelo menos ( e acho que  nenhum médico), fazemos milagre. Tenho também, vários casos de insucesso. Mas fico muito feliz em fazer parte dos casos de sucesso dos meus pacientes, pois acima de qualquer droga bem utilizada, de uma abordagem multidisciplinar  e integrativa, das mesmas fisiopatologias e tratamentos, existe uma coisa única:

    a forma como cada um percebe e recebe e faz, o que o médico prescreve.

     

    Lizanka Marinheiro

    Endocrinologista.

    Prof.Pós-Graduação em Pesquisa Clínica  Aplicada à Saúde da Mulher

    Instituto Nacional Fernandes Figueira – FIOCRUZ

     

    Opinião do autor

    Foto: Mônica Villar (com permissão)