• Tríade da Mulher Atleta

    21 de abril, 2012

    Tríade da Mulher Atleta

    Prezados leitores e colaboradores,

     

    A partir desta edição estarei publicando quinzenalmente artigos sobre atividade física, saúde e qualidade de vida, voltados para o público feminino. Como artigo de estréia, abordarei sobre a Tríade da Mulher Atleta.

    A participação feminina em competições esportivas vem crescendo a cada dia. Antes proibida, pois era vista como prejudicial à saúde da mulher e da prole, hoje a atividade física é incentivada pelos seus inúmeros benefícios à saúde. Entretanto, como tudo em excesso é prejudicial, o excesso de atividade física pode levar sérios danos ao corpo da mulher. Somado a distúrbios alimentares, pela exigência de um “corpo em forma”, quer seja para performance ou para estética, muitas mulheres sofrem da chamada Tríade da Mulher Atleta (TMA).

    A TMA é caracterizada por distúrbios alimentares, disfunção menstrual e osteoporose. O treinamento excessivo, dieta hipocalórica, baixo peso corporal e baixo percentual de gordura aparecem como os principais fatores que levam a disfunção menstrual e a perda de densidade mineral óssea. Entre os esportes onde há maior prevalência de atletas neste quadro destacam-se aqueles onde as atletas são avaliadas subjetivamente, como a ginástica artística e o nado sincronizado, ou onde o baixo peso corporal e o percentual de gordura reduzido são determinantes para performance, como a maratona, o ciclismo e a natação. A maior prevalência da TMA é em adolescentes, fato que pode ser prejudicial para a maturação e crescimento desta população que se encontra em fase de desenvolvimento.

    Embora a TMA esteja mais presente em atletas, no ambiente não-esportivo é recorrente observar mulheres com sinais e sintomas desta síndrome. A pressão social por um corpo que atenda os padrões estéticos leva muitas mulheres a passarem horas se exercitando e se alimentando de maneira inadequada, com o objetivo de reduzir excessivamente o peso corporal e o percentual de gordura.

    Acredita-se que as endorfinas liberadas durante a prática de atividade física e manutenção destes níveis elevados com o treinamento diário podem inibir a produção do hormônio liberador das gonadotrofinas (GnRH) pelo hipotálamo e, com isso, inibir todo eixo hormonal feminino (hipotálamo-hipófise-ovário-útero). Além disso, a liberação de endorfinas diminui a produção de dopamina no núcleo arqueado hipotalâmico, gerando uma cascata de eventos que contribuem para diminuir a produção de GnRH. A redução da produção deste hormônio acarreta na conseqüente diminuição na secreção de estrogênio, gerando distúrbios no ciclo menstrual e na densidade mineral óssea.

    O percentual de gordura muito reduzido é outro fator que contribui diretamente para a irregularidade do ciclo menstrual. Estima-se que o percentual de gordura necessário para manter o ciclo menstrual regular é em torno de 22%. Mulheres que possuem o percentual de gordura abaixo deste valor podem ter períodos irregulares (oligomenorréia) ou até ausência total de menstruação (amenorréia).

    Todas as alterações no ciclo menstrual estão na dependência direta da intensidade e duração do exercício, condicionamento, perda de peso e de gordura corporal durante o treinamento. A amenorréia hipotalâmica associada com a TMA resulta numa condição de hipoestrogenismo (baixa concentração sérica de estrogênio), levando à osteoporose prematura, elevando o risco de fratura por stress.

    O tratamento com uma equipe multiprofissional é essencial nos casos de TMA. É necessária uma orientação com um psicólogo para tratar possíveis distúrbios de imagem que podem levar a este quadro. O acompanhamento nutricional  e é importante para adequar a quantidade de calorias e nutrientes a serem ingeridos e no controle do peso corporal. Uma avaliação com um endocrinologista para uma avaliação hormonal muitas vezes se faz necessária.

    Quanto ao treinamento, é necessária uma redução no volume e na intensidade das sessões, quando identificados sinais e sintomas da TMA. Estratégias que visem aumentar o peso corporal e o percentual de gordura devem ser incentivadas para regularizar o ciclo menstrual e recuperar a densidade mineral óssea. Em alguns casos, faz-se necessária a terapia de reposição hormonal para restabelecer o ciclo menstrual regular.

    Realizar exercícios de forma moderada é a melhor maneira de obter todos os benefícios que esta prática pode promover. Caso esteja treinando para alguma prova de longa distância, como uma maratona, por exemplo, esteja sempre acompanhada por uma equipe profissional especializada em prescrever o treinamento e a dieta adequada, para que não haja prejuízos para seu organismo.

     

     

    Cuide do seu corpo, da sua mente o do seu coração!

     

    Wallace Machado

    Personal Trainer

    wallacemachado@ufrj.br