• Zika vírus em mulheres grávidas no Rio de Janeiro: artigo mais recente publicado no New England

    13 de março, 2016

    160128185001-zika-mutant-male-mosquitos-mclaughlin-pkg-00020830-large-169É realmente assustador, em pleno século XXI, epidemias causadas por mosquitos desafiarem a medicina do mundo inteiro com todos os seus avanços e tecnologia disponível. Faz-nos lembrar as priscas eras em que se morria de malária, e da antiga Fundação SESP, que pelo Brasil afora, era chamada de fundação “mata mosquito”.

     

    Mais revoltante ainda, é ver nosso sistema de saúde falido, o absurdo que pagamos de impostos e que deveriam ser investidos na saúde pública e educação, ser roubado, e ter uma gestão que corrói, adoece, entristece e revolta o cidadão brasileiro.

     

    Os hospitais universitários aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, chamados de grande complexidade, como os da UFRJ, UERJ, UNIRIO e UFF, tem os  Ministério da Educação e da Saúde como responsáveis pela sua manutenção, tendo o governo do estado do Rio de Janeiro, a responsabilidade  da manutenção financeira do hospital Pedro Ernesto, da UERJ. O que se tem visto nos últimos anos? A gestão destes hospitais que foi entregue a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares  (EBSERG); e o Ministério da Educação tem ano a ano sub-financiado suas verbas para estes hospitais, deixando clara que, ou os médicos gestores dos hospitais universitários se dobram à EBSERG, ou não receberão recursos necessários para compra de materiais para exames, cirurgias e internações. Resultado: mais de 50% dos leitos destes hospitais estão fechados por falta de verbas!

     

    É nesse cenário, que se encontra tais hospitais, que são os responsáveis por atender os casos mais sérios, formar médicos e outros profissionais de saúde, internar pacientes com casos mais complicados! “Que país é este ?”

     

    Vemos toda imprensa nos últimos meses falar sobre a epidemia de Zika. Doença transmitida por um mosquito, ou seja, em última análise a causa  é a sujeira, falta de saneamento básico e educação, ou seja a pobreza, a má administração e gestão de verbas públicas e recursos. O melhor tratamento é a prevenção!

     

    Com alegria, comento o artigo mais recente sobre o assunto, de uma doença que ainda se sabe pouco, mais o todo o mundo acadêmico está pesquisando, assim como autoridades de saúde mundiais estão preocupadas; este artigo foi publicado pelo New England Journal of Medicine, por colegas da FIOCRUZ, e pesquisadores da UCLA.

     

    O vírus da Zika (ZIKV) foi identificado pela primeira vez no Brasil na Bahia em 2015, pelo método de PCR,  em pacientes com sintomas semelhantes aos da Dengue, tais  como, dores musculares, febre, artralgias e conjuntivite. Logo depois, foram descritos casos na Polinésia francesa. O mesmo (ZIKV), tem sido ligado a microcefalia neonatal. Os casos aumentaram consideravelmente em setembro de 2015 no Nordeste do Brasil, se espalhando a seguir pelo Sudeste e sendo associado a casos de microcefalia em grávidas na região Nordeste.

     

    Com o objetivo de estudar as repercussões do mesmo na gravidez, foram seguidas 88 pacientes num estudo de coorte no Rio de Janeiro entre setembro   de 2015 e fevereiro de 2016, para descrever as manifestações clínicas nas mães e as repercussões nos fetos.

     

    De um total de 88 mulheres estudadas, 72 (82%) foram positivas para o ZIKV no sangue, urina, ou em ambos. A infecção aguda ocorreu entre a quinta e trigésima oitava semanas de gestação. Os sintomas clínicos principais foram prurido  maculopapular  ou rush cutâneo maculopapular, artralgias, congestão conjuntival, e dor de cabeça; 28% apresentaram febre ( baixa e alta). As mulheres que foram positivas para o ZIKV, apresentaram um maior percentual de sintomas que as negativas. 

     

    Foram realizadas ultra-sonografias em 42 mulheres positivas para o ZIKV (58%), e em todas as não portadoras. Nas 42 portadoras, foram encontradas anormalidades fetais em 12 (29%) e em nenhuma das  16 não portadoras do vírus.

     

    Achados como morte fetal (2 fetos), retardo do crescimento intra-uterino  com ou sem microcefalia (5 fetos), calcificações ventriculares ou outras lesões do sistema nervoso central (7 fetos), e volume anormal do volume  do líquido aminiótico, cerebral ou da artéria umbilical  (7 fetos).

     

    Até a data da publicação 8 das 42 mulheres haviam dado a luz, e os achados da ultra-sonografia haviam sido confirmados.

     

    Entre as mulheres portadoras do ZIKV, mais da metade referiram ter ocorrido doença semelhante em outros membros da família e 21% em seus parceiros. A infecção vem ocorrendo em todos as camadas sociais,  ocorre mais no segundo trimestre da gravidez, e não há diferença demográfica estatisticamente significativa  entre as portadoras e não portadoras.
     As mulheres ZIKV-positivas  residem em vários bairros e municípios dentro da grande área metropolitana do Rio de Janeiro.

     

    Apesar de apresentar sintomas leves, a infecção causada por Zika vírus (ZIKV) durante a gravidez parece está associada a graves consequências , incluindo morte fetal, insuficiência placentária retardo no crescimento e alterações no Sistema nervoso Central. Daí a necessidade de mais pesquisas  de cooperação mútua e interdisciplinar para um melhor conhecimento da doença, ainda muito pouco conhecida,  ALÉM de uma melhor gestão de recursos para o nosso sistema de saúde, e educação, para todo o cidadão brasileiro que paga altas taxas de impostos e a ele tem este  direito.

     

    Tais achados  são de suma importância para uma abordagem efetiva e de sucesso no combate, prevenção e tratamento desta epidemia no Brasil  e no mundo.

     

     

     

    Lizanka Marinheiro -Endocrinologista

     Prof. das Pós-Graduações em Saúde da Mulher e de Pesquisa Clínica Aplicada à Saúde da Mulher

    Instituto Nacional de Saúde da Criança Mulher e Adolescente – Fernandes Figueira

    FIOCRUZ

     

     

    ORIGINAL ARTICLE
    Zika Virus Infection in Pregnant Women in Rio de Janeiro — Preliminary Report
    Patrícia Brasil, M.D., Jose P. Pereira, Jr., M.D., Claudia Raja Gabaglia, M.D., Luana Damasceno, M.S., Mayumi Wakimoto, Ph.D., Rita M. Ribeiro Nogueira, M.D., Patrícia Carvalho de Sequeira, Ph.D., André Machado Siqueira, M.D., Liege M. Abreu de Carvalho, M.D., Denise Cotrim da Cunha, M.D., Guilherme A. Calvet, M.D., Elizabeth S. Neves, M.D., Maria E. Moreira, M.D., Ana E. Rodrigues Baião, M.D., Paulo R. Nassar de Carvalho, M.D., Carla Janzen, M.D., Stephanie G. Valderramos, M.D., James D. Cherry, M.D., Ana M. Bispo de Filippis, Ph.D., and Karin Nielsen-Saines, M.D.
    March 4, 2016DOI: 10.1056/NEJMoa1602412