• Comparando sistemas de pâncreas artificial no diabetes tipo 1

    11 de fevereiro, 2015

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    Quão útil é o glucagon somado à insulina?

    Contexto

    O pâncreas artificial é uma tecnologia emergente para o tratamento de diabetes tipo 1. Duas configurações foram propostas: um hormônio (apenas insulina) e dois hormônios (insulina e glucagon). Nosso objetivo foi descrever a utilidade do glucagon no sistema de pâncreas artificial.

    Métodos  

    Fizemos um estudo cruzado, randomizado, com pâncreas artificial de dois hormônios, pâncreas artificial de um hormônio e terapia convencional com bomba de insulina (infusão subcutânea contínua de insulina) em participantes a partir de 12 anos de idade com diabetes tipo 1. Os participantes foram randomizados a uma proporção de 1:1:1:1:1:1 com randomização bloqueada para as três intervenções, e compareceram na unidade de pesquisa para três visitas de 24 horas do estudo. Durante as visitas, quando o paciente usava o pâncreas artificial de um hormônio, a infusão de insulina se baseava nas leituras de um sensor de glicose e em um algoritmo preditivo da dose. Nas visitas de pâncreas artificial de dois hormônios, também havia a infusão de glucagon em caso de glicemia baixa ou em queda. Nas visitas de terapia convencional com uma bomba de insulina, os pacientes recebiam uma infusão subcutânea contínua de insulina. O estudo não foi mascarado. O resultado principal foi o tempo em que as concentrações de glicemia plasmática permaneceram dentro da faixa alvo (4,0 a 10,0 mmol/L durante 2 h no pós-prandial e 4,0 a 8,0 mmol/L o resto do tempo). Eventos hipoglicêmicos foram definidos como concentração de glicemia plasmática menor que 3,3 mmol/L, com sintomas, ou menor que 3,0 mmol/L, independente de haver ou não sintomas. A análise foi feita pela intenção modificada de tratar, onde incluímos dados para todos os pacientes que compareceram a pelo menos duas visitas. Um valor de p menor que 0,0167 (0,05/3) foi considerado significativo. Este estudo está registrado no ClinicalTrials.gov, número NCT01754337.

    Achados  

    A proporção média de tempo passado na faixa alvo de glicemia plasmática em 24 h foi de 62% (DP 18), 63% (18) e 51% (19) para o pâncreas artificial de um hormônio, pâncreas artificial de dois hormônios e terapia convencional com bomba de insulina, respectivamente. A diferença média de tempo passado na faixa alvo entre o pâncreas artificial de um hormônio e a terapia convencional com bomba de insulina foi de 11% (17; p=0,002), e entre o pâncreas artificial de dois hormônios e a terapia convencional com bomba de insulina foi de 12% (21; p=0,00011). Não houve diferença (15; p=0,75) na proporção de tempo passado na faixa alvo entre os sistemas de pâncreas artificial de um hormônio e de dois hormônios. Houve 52 eventos hipoglicêmicos com a terapia convencional com bomba de insulina (12 dos quais foram sintomáticos), 13 com o pâncreas artificial de um hormônio (cinco dos quais foram sintomáticos) e nove com o pâncreas artificial de dois hormônios (0 dos quais foram sintomáticos); o número de eventos hipoglicêmicos noturnos foi 13 (0 sintomáticos), 0 e 0, respectivamente.

    Interpretação  

    Os sistemas de pâncreas artificial de um hormônio e de dois hormônios tiveram um melhor controle glicêmico comparado à terapia convencional com bomba de insulina. O pâncreas artificial de um hormônio pode ser suficiente para o controle glicêmico sem hipoglicemia durante a noite.

     

    Fonte:

    The Lancet Diabetology

    2015; 3: 17–26

    Published Online November 27, 2014 http://dx.doi.org/10.1016/ S2213-8587(14)70226-8

     

    Lizanka Marinheiro – Endocrinologista

    Prof. da Pós-graduação em Pesquisa Clínica Aplicada à Saúde da Mulher

    Prof. da Pós – Graduação em Saúde da Mulher e da Criança

    Coordenadora da Pós-Graduação em Endocrinologia Feminina

    INSTITUTO NACIONAL DE SAÚDE DA CRIANÇA, MULHER E ADOLESCENTE- FERNANDES FIGUEIRA

    FIOCRUZ