• Fatores de risco cardiovasculares associados à menopausa

    25 de fevereiro, 2021

    O aumento dos fatores de risco para doenças cardiovasculares é esperado no processo natural de envelhecimento, contudo, existem alguns fatores de risco específicos para mulheres.
    O período de transição no período da menopausa pode contribuir para o aumento de fatores de riscos somados aos já esperados pelo envelhecimento, o que exige atenção específica para a manutenção de um perfil de risco cardiovascular ideal e qualidade de vida.
    Mulheres na pós-menopausa tendem a ter 2 vezes mais chances de desenvolver síndrome metabólica do que mulheres na pré menopausa com a mesma idade, uma explicação possível está na alteração do perfil lipídico causado pela menopausa, caracterizado por maiores níveis de colesterol LDL e triglicerídeos.

    As mudanças hormonais também podem causar o aumento acentuado da pressão arterial, o início da hipertensão é marcado por sintomas como palpitações, dores no peito, dores de cabeça, cansaço e distúrbios do sono e muitas vezes são confundidos com os sintomas vasomotores da menopausa.
    Doenças reumáticas e endócrinas autoimunes como artrite reumática e distúrbios da tireoide são mais prevalentes em mulheres do que em homens e estão associadas ao aumento do risco de doença cardiovascular, pacientes com esses distúrbios também têm um maior agrupamento de fatores de risco tradicionais, que devem ser levados em consideração na avaliação do risco individual em torno da menopausa. A mudança no ambiente hormonal também está associada a alterações na composição corporal, a massa gorda aumenta predominantemente nas regiões central e visceral, enquanto a massa magra diminui após a menopausa. Além disso, os níveis mais baixos de estrogênio vêm sendo associados ao gasto energético reduzido, comportamento alimentar e tamanho da refeição, e consequentemente à obesidade.

    Os estrogênios regulam a reatividade vascular, pressão arterial, função endotelial e remodelação cardíaca. As alterações nos níveis de estrogênio afetam o sistema imunológico, que está intimamente ligado à função vascular e ao envelhecimento. Mulheres com sintomas graves de menopausa parecem ter um quadro mais desfavorável para o risco de doença cardiovascular em comparação com mulheres assintomáticas.

    A prática regular de exercícios físicos tem efeito benéfico nos sintomas vasomotores e na qualidade de vida. Outro método eficaz de gerenciar os sintomas vasomotores é a utilização de terapia de reposição hormonal (TH). De acordo com as evidências atuais, os principais benefícios da TH são: eficácia no tratamento dos sintomas da menopausa; eficaz no tratamento da síndrome geniturinária da menopausa; previne a perda mineral óssea na pós menopausa; auxilia no manejo dos sintomas de alteração de humor resultantes da menopausa; contribui para a diminuição do risco de doença cardiovascular e demais causas de morbilidade em mulheres na pós menopausa. Dentre os possíveis riscos da TH estão aumento do risco para alguns tipos de câncer e até de infarto em mulheres com alto risco para doenças cardiovasculares. Uma avaliação médica individualizada é imprescindível para todos os casos, assim como o acompanhamento individual e permanente durante a utilização da TH no caso de recomendação.

    Fonte: Maas AHEM, Rosano G, Cifkova R, Chieffo A, van Dijken D, Hamoda H, Kunadian V, Laan E, Lambrinoudaki I, Maclaran K, Panay N, Stevenson JC, van Trotsenburg M, Collins P. Cardiovascular health after menopause transition, pregnancy disorders, and other gynaecologic conditions: a consensus document from European cardiologists, gynaecologists, and endocrinologists. Eur Heart J. 2021 Jan 25:ehaa1044. doi: 10.1093/eurheartj/ehaa1044. Epub ahead of print. PMID: 33495787.

     

    Lizanka Marinheiro

    Endocrinologista, Md, Phd

    Instituto Fernandes Figueira- FIOCRUZ