• Fome emocional

    2 de maio, 2020

    FOME EMOCIONAL

    A alimentação é uma necessidade biológica para a sobrevivência, entretanto, nosso comportamento alimentar também é mediado por valores culturais e simbólicos através de diversos aspectos sociais, ambientais, nutricionais e psicológicos. Nossas escolhas alimentares, a quantidade ingerida e a frequência das refeições podem, portanto, sofrer alterações não somente devido às necessidades fisiológicas, mas também de acordo com nosso estado emocional. Nesse sentido, surge a distinção entre os conceitos de fome física e fome emocional. A fome física se refere à sensação fisiológica de que o corpo necessita de alimento para manter atividades inerentes à vida, enquanto a fome emocional é súbita, não acaba necessariamente quando o organismo está saciado e é um reflexo de necessidades emocionais.

    A alimentação emocional é um termo utilizado para relatar a ingestão de alimentos como forma de resposta às emoções. O interesse por esse tema está em expansão ao longo dos últimos anos, em grande parte, devido ao impacto dos estilos de vida atuais na saúde pública. Diante de diversos fatores biopsicossociais, vivenciamos, no mundo, um aumento expressivo nos índices de depressão e ansiedade, assim como nas taxas de prevalência de transtornos alimentares e obesidade, o que torna esse tópico ainda mais relevante atualmente.

    Ao longo da história, os alimentos também são usados como forma de celebração e apresentam importantes valores culturais, o que nos faz remeter determinados alimentos às sensações de conforto e boas recordações – como aquele bolo que nos dá gosto de infância. Estados emocionais de maior estresse ou sintomas de ansiedade e depressão tendem a representar situações de maior impacto no comportamento alimentar relacionado à fome emocional. Nesse sentido, o estresse, por exemplo, pode estimular a ingestão de alimentos que proporcionem “conforto emocional”.

    A regulação emocional é uma questão multidimensional relacionada à capacidade do sujeito de identificar e controlar a magnitude e/ou o tipo de experiência emocional que vivencia. A alteração ou dificuldade nesse processo pode afetar a autorregulação em outras áreas, como no comportamento alimentar. Estudos têm apontado a utilização de comportamentos alimentares disfuncionais como estratégia para lidar com emoções negativas, assim como a associação dos sintomas de depressão e ansiedade com a alimentação emocional. Assim, a percepção de controle emocional e comportamental por parte do sujeito é um dos preditores de uma alimentação saudável, de modo que o gerenciamento adequado das emoções através da regulação emocional é de extrema importância no contexto da saúde nutricional e na prevenção e tratamento de transtornos alimentares.

     

     

    REFERÊNCIAS

    Balaias, D. (2009). Quando as emoções comandam a fome. Rev. Portuguesa de Psicologia7, 10-16.

    Bettin, B. P. C., Ramos, M., & de Oliveira, V. R. (2019). Alimentação emocional: narrativa histórica e o panorama atual. RBONE-Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento13(80), 674-686.

    Pedrosa, R. L., & Teixeira, L. C. (2015). A perspectiva biomédica dos transtornos alimentares e seus desdobramentos em atendimentos psicológicos. Psicologia USP26(2), 221-230.

    Gouveia, M. J. R., Canavarro, M. C. C. S. P., & Moreira, H. (2017). O papel moderador do peso na associação entre as dificuldades de regulação emocional e os comportamentos alimentares.

     

    Amanda Oliveira de Carvalho

     Aluna do Mestrado Acadêmico pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher do IFF/Fiocruz

    Lizanka Marinheiro Md, Phd – Endocrinologista

    Profa. do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher do IFF/Fiocruz