• O choro de Neymar e o erro médico. Algo em comum?

    22 de junho, 2018

      O choro de Neymar e o erro médico. Algo em comum?

     

    Ontem num hospital de excelência aqui no Rio de Janeiro, para plateia composta em sua maioria de médicos e profissionais de saúde formadores de opinião, o moderador sênior lançou uma pergunta:

    “Verdade ou não que o erro médico é responsável pela terceira maior causa de morte no mundo?”

    A primeira seria doenças cardiovasculares e a segunda câncer. O vídeo em debate foi passado, comentado por colegas com sério rigor médico e didático.

    Verdade ou não o vídeo em questão, assim como milhões de fake- news produzidas na internet, vídeos promocionais de marketing entre outros do gênero, minha reflexão neste momento não é sobre isto.

    Mas, sobre o objeto da discussão da referida sessão, que tentou em 90 minutos lançar dúvidas, mais que ter respostas, e fazer pensar a classe médica , e principalmente os que nela se iniciam: sobre o erro médico.

    E lembro as palavras do colega Prof. Benilton Bezerra:

    “Qual seria o objetivo da medicina se não tentar fazer a vida dos nossos pacientes mais interessante?”

     

    Hoje vimos terminar a partida entre Brasil e Costa Rica com uma vitória de 2X0 nos últimos minutos do segundo tempo, literalmente, com um gol do Neymar, quando na internet já surgiam várias charges e brincadeiras sobre as quedas do mesmo durante a partida. Mas a cena final que me emocionou e que refletiu a partida inteira, foi o seu choro.

    Assim como os erros de finalização da equipe e individuais de cada jogador durante a partida inteira, vimos vários erros.

    Erros são erros. Humanos portanto. Em qualquer profissão. E como tal, há de que se ter primeiramente humildade para reconhece-los.

    Não entendo nada de futebol e sou daquelas que mal vejo copa do mundo…, mas  respeito o futebol como o MAIOR esporte democrático e popular do mundo, mas na medicina, especificamente, com relação ao erro médico, a primeira coisa que há de ser feita oara tentar diminuir a margem de erros médicos, tanto por nós médicos como por  profissionais da área, é o diagnóstico do erro, não só da equipe de saúde , mas de nós mesmos.

    Do nosso diagnóstico. Do tempo que passamos sem dar uma resposta firme ao nosso paciente.

    O erro pode ser do nosso diagnóstico ou da equipe já que hoje se trabalha em rede. E muitas vezes esse erro vai se perpetuando em cadeia. E pode ser fatal sim. 

    Temos que ser muito cuidadosos em nossa escuta, exame clínico e juntar tudo com os exames complementares, tão disponíveis hoje em dia graças ao excelente avanço tecnológico.

    Um diagnóstico errado levará a uma conduta catastrófica, pois sabemos que mesmo usando as medicações corretas estas tem efeitos adversos e interações com outras drogas, exigindo por si só, cuidados. Para isso, existem protocolos clínicos, os guide-lines que devem ser seguidos, e as condutas devem estar o mais possívelmente, corretas.

    Mas, não se pode subestimar a experiência, a “magia” a intuição, chamado terceiro olho, no  qual acredito pessoalmente, ser uma coisa pessoal de cada médico em particular.

     

    Somo todos incompletos.

    Reconhecermos isto como verdade, com humildade, serenidade e seriedade, nos torna mais fortes e empodeirados para chorar e errar menos, como Neymar Junior, que hoje, apesar de tantos erros, nos deu um gol belíssimo..

     

    Lizanka Marinheiro, Md, PhD

    Endocrinologista -FIOCRUZ

     

    (sobre o vídeo em questão)

    N ENGLAND J MED 369;18NEJM.ORG OCTOBER 31, 2013