• Tudo passa. Esperança. Sejamos gratos!

    13 de maio, 2020

    São cinco horas;

    Tarde nublada aqui no Rio. Não estou no consultório como de costume. Hora de ligar os lampiões e candinheiros como no nordeste… Em casa como raras vezes em minha vida, lembro de acender as luzes como quem liga os lampiões. De um passado tão longe na memória que me leva a fazenda dos cariris secos da minha avó paterna, nas férias de inverno. Tão diferente do que presenciei aqui das férias da minha filha.

    Não tinha luz, e nos reuníamos nas férias para rezar o terço, ligar o motor da bomba de energia, fechar as janelas para os pernilongos não entrarem, e ir jantarmos as 6 da tarde. Muitos primos, muitos tios, minha avó com aquelas pernas grossas, e cheias de varizes, coque preso no cabelo e voz rouca dizendo: “Hora de jantar para ir dormir meninos”. Falava pouco como meu pai.

    Eram nossas férias de julho.

    A casa era barulhenta no seu silêncio e a TV preto e branco. Uns jogavam cartas, outros conversavam no alpendre da casa enquanto ainda tinha alguma luz, e os passarinhos e rolinhas se aninhavam nas grandes árvores da frente. Não importava a seca… era tudo muito bom. Não havia diário de gratidão, mas parecia haver, não sei bem porquê, uma gratidão implícita em cada um.

    Eu estava ali nas minha férias, tão acompanhada, e sozinha!

    Cabia a mim ser grata, e optei talvez pelo segundo sentimento. Ver os primos, tias, irmã , avó, agregados, passarinhos…

    Ontem assisti uma palestra do Mestre Benilton Bezerra, também nordestino, excelente psicanalista e médico (a qual compartilhei no meu face), que muito me emocionou, não só pelo seu brilhantismo , cultura etc.

    Mas por sua mensagem de esperança e fé. Talvez essa fé na vida que todo nordestino traz em si… que devamos e esperamos ter neste momento tão incerto e com tantas dúvidas e cheio de perguntas que temos atualmente.

    Devemos ter a esperança e alegria de acender as lamparinas como nas fazendas, e pequenas casas no nordeste de ontem e hoje neste BRASIL, esperando que tudo vai dar verto, e tudo vai passar.

    Lizanka Marinheiro

    Endocrinologista-Fiocruz