• Entendendo o caminho para a remissão do Diabetes Tipo 2

    23 de novembro, 2022

    O diabetes tipo 2 (DM2) é uma das doenças crônicas mais prevalentes no Brasil e no mundo, o número de pessoas que desenvolvem DM2, e pré-diabetes, é tão alto que pode ser considerado uma crise de saúde pública, isso porque, a doença é uma das principais causas de morte, cegueira, amputação e doenças cardiovasculares. O DM2 é caracterizado pela perda progressiva e irreversível da função das células β pancreáticas, cuja função é reduzida para 50% da função normal. O tratamento atual do DM2 consiste em mudanças na dieta e no estilo de vida com adição progressiva de regimes antidiabéticos mais complexos (incluindo metformina, sulfonilureias, inibidores do cotransportador de sódio-glicose-2, tiazolidinedionas e assim por diante) e, eventualmente, terapia com insulina. Portanto, há interesse no desenvolvimento de terapias para induzir a remissão do diabetes a longo prazo no DM2 para melhorar a qualidade de vida e potencialmente diminuir as complicações do diabetes.

    Recentemente a Associação Americana de Diabetes (ADA) validou o uso do termo “remissão” para o diabetes tipo 2. Remissão não significa cura e nem reversão da doença, significa que o diabetes está tão sob controle quanto se tivesse desaparecido do organismo. A remissão do diabetes é definida pela ADA como a capacidade de atingir e manter uma concentração de hemoglobina glicosilada (HbA1c) inferior a 6,5% (48 mmol/mol) por pelo menos 3 meses após a interrupção da terapia hipoglicemiante. Estudos recentes mostraram que a eliminação de cerca de 15% do peso corporal original é capaz de promover a remissão de DM2. A melhor maneira de atingir essa meta de perda de peso é se engajar numa mudança intensiva de estilo de vida, ou seja, adotar um padrão alimentar saudável associado à atividade física regular. Essas mudanças não devem ser encaradas como uma dieta temporária, chamamos de estilo de vida corretamente, pois que esses hábitos devem ser incorporados à rotina permanentemente, de forma que a perda de peso e os benefícios associados sejam sustentados.

    Apesar de estudos clínicos constatarem que é possível perder mais de 15% do peso apenas com mudanças no estilo de vida, existem outras maneiras de atingir esse patamar de redução do peso, que são os procedimentos cirúrgicos, a cirurgia bariátrica ou metabólica chega a promover perdas de peso superiores a 15%, podendo chegar a números próximos a 40%. Quando bem indicadas, elas trazem qualidade de vida e contribuem para a remissão de diversos males, entre eles o diabetes tipo 2. Outra forma de eliminar esse percentual do peso é a prescrição e uso de medicamentos antiobesidade, é importante, contudo, esclarecer que nem a cirurgia ou os medicamentos excluem a importância da adoção do estilo de vida saudável para o sucesso do tratamento.

    Em 2023, teremos o lançamento no Brasil de alguns remédios capazes de promover perdas de peso nunca vistas:

    – O primeiro é a combinação fixa de dois princípios ativos na mesma pílula, Naltrexona com Bupropiona, num seguimento de 6 meses, a redução média de peso foi de 8% em pessoas com obesidade;

    – O segundo é a Semaglutida, agonista do receptor de peptídeo-1 do tipo glucagon (GLP-1RA), que em forma de injeção subcutânea de aplicação semanal e em nova dosagem (2,4 mg) promoveu, nos estudos clínicos, uma perda média de 17% do peso em um ano e meio em voluntários com obesidade;

    – O terceiro é a Tirzepatida é uma molécula polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP) com GLP-1RA que, numa população semelhante, levou à perda média de 21% do peso, um feito inédito entre medicamentos, também é aplicada em forma de injeção subcutânea semanal.

    O uso de medicamentos para diabetes que incluem as incretinas como a Semaglutida e a Tirzepatida mostram dados promissores para manter o controle glicêmico, preservar a função das células β e podem causar perda de peso significativa e sustentada. No entanto, os efeitos são perdidos após a interrupção da medicação. Os efeitos na remissão do DM2 ainda são desconhecidos.

    Fonte: Hao S, Umpierrez GE, Daley T, Vellanki P. (2022) Intervention with Therapeutic Agents, Understanding the Path to Remission in Type 2 Diabetes Part 1. Endocrinology and Metabolism Clinics of North America. Elsevier. https://doi.org/10.1016/j.ecl.2022.07.003. Disponível em: https://www.endo.theclinics.com/article/S0889-8529(22)00074-3/fulltext#secsectitle0035

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    Dra. Lizanka Marinheiro, Md, PhD. Médica endocrinologista e pesquisadora no IFF/FIOCRUZ.