• Suplementação de Vitamina D e Cálcio e saúde Cardiovascular

    1 de fevereiro, 2021

     

    Cada vez mais adultos e idosos utilizam suplementos vitamínicos para complementar a ingestão de nutrientes essenciais. É comum a utilização combinada de suplemento de Cálcio e Vitamina D com o intuito de otimizar a saúde óssea, contudo, os efeitos esperados e colaterais dessa prática vem sendo investigados em diversos estudos. Os resultados relevantes parecem indicar que a suplementação de cálcio oferece potencial de risco para dano cardiovascular, enquanto, a vitamina D não parece ser prejudicial à saúde cardiovascular, no entanto, o seu benefício tampouco foi demonstrável, segundo ampla revisão publicada pela journal of the american college of cardiology neste início de 2021.

    A vitamina D é uma vitamina lipossolúvel que tem um papel fundamental na manutenção da densidade mineral óssea, atuando na síntese do hormônio esteróide calcitriol um importante regulador da homeostase de cálcio e fósforo. A vitamina D pode ser obtida exogenamente através de dieta adequada ou suplementação, ou endogenamente na pele após a radiação ultravioleta B da luz solar, a capacidade de produção endógena é afetada por fatores ambientais como latitude e estação do ano e individuais como grau de exposição, uso de protetor solar e idade. A concentração circulante de 25-hidroxivitamina D (25 (OH) D) é considerada o melhor biomarcador do status geral da vitamina D. Dentre os fatores de risco para a baixa concentração de 25 (OH) D está a obesidade, isto ocorre porque a vitamina D é sequestrada para o tecido adiposo. As concentrações de 25 (OH) D também são mais baixas em determinados grupos raciais e étnicos como o de pessoas negras, a razão disso está na pigmentação da pele que inibe a produção de vitamina D, apesar disso, pessoas negras tem em média maior densidade mineral óssea e menores riscos de fratura que pessoas brancas, o que gera questionamentos sobre os limites de adequação para 25 (OH) D em relação a diferentes grupos raciais, um nível de limiar único é falho para definir a deficiência de um indivíduo, o que pode apontar uma lacuna nos estudos observacionais em que níveis baixos de 25-hidroxivitamina D no sangue foram associados a risco cardiovascular elevado. Ensaios clínicos randomizados e as metanálises desses ensaios não confirmaram benefício cardiovascular da suplementação de vitamina D, mesmo entre os subgrupos caracterizados por estado de vitamina D inadequado ou insuficiente segundo critério de concentrações séricas de 25 (OH) D <20 ng/ml. As associações entre concentração de 25 (OH) D e desfecho cardiovascular relatadas em estudos observacionais podem ter sido causadas por confundimento de fatores como a obesidade e a prática de atividade física ao ar livre insuficiente que também se associam a piores desfechos cardiovasculares, por exemplo. Até mesmo os supostos benefícios da vitamina D sobre a saúde óssea estão sendo questionados recentemente pela falta de benefício demonstrável de redução de fratura ou densidade mineral óssea.

    Somada à discussão da suplementação de vitamina D, está a suplementação de cálcio que é frequentemente prescrita simultaneamente para otimizar a saúde óssea. A ingestão adequada de cálcio é importante para o desenvolvimento e a manutenção da densidade óssea, o cálcio é o mineral mais abundante no corpo sendo 99% armazenado nos ossos e dentes. A vitamina D pode influenciar a absorção do cálcio pelo organismo, o que favorece o uso concomitante dos dois suplementos. A suplementação oral de cálcio pode ser necessária para pessoas que não conseguem obter suprimento suficiente por meio de fontes alimentares como pessoas intolerantes a lactose, com osteopenia ou osteoporose e mulheres amenorréicas ou na pós-menopausa. Porém, enquanto o uso de suplemento de Vitamina D demonstraram ser relativamente seguros (com risco apenas para doses muito elevadas), os suplementos de cálcio foram associados ao risco aumentado de eventos cardiovasculares em alguns estudos observacionais e de ensaios clínicos randomizados. Esse mesmo risco aumentado de dano cardiovascular não foi observado para a ingestão de cálcio a partir de fontes alimentares, os riscos parecem ser decorrentes da formulação, dosagem e se usado concomitantemente com a vitamina D. Os suplementos de cálcio, tanto sozinho, quanto em associação à suplementos de Vitamina D foram associados também a outros efeitos adversos como cálculos renais. Os resultados parecem apontar para a recomendação do uso de suplemento de cálcio com cautela, dando preferência ao aumento de ingestão de cálcio por fontes alimentares.

    Considerando os potenciais de danos e benefícios, a decisão pela suplementação deve ser avaliada considerando as particularidades de cada caso e compartilhada entre o profissional e o paciente. Pacientes com deficiências nutricionais que não podem ser supridas apenas com mudanças na dieta podem se beneficiar da suplementação para preencher essas lacunas. Contudo, entre as pessoas sem deficiências claras de nutrientes, o recomendável é motivar o paciente na direção de uma promoção de saúde não farmacológica, com práticas importantes e benéficas como atividade física de preferência ao ar livre ou outras formas de exposição adequada à luz solar, dieta saudável para o coração, evitar o uso de tabaco e o excesso de álcool, além da manutenção de um peso ideal.

     

    Fonte:

    Heravi, A. S., & Michos, E. D. (2019). Vitamin D and Calcium Supplements: Helpful, Harmful, or Neutral for Cardiovascular Risk?. Methodist DeBakey cardiovascular journal15(3), 207–213. https://doi.org/10.14797/mdcj-15-3-207