• TESTOSTERONA E LIBIDO

    13 de setembro, 2021

    Testosterona, libido, menopausa - Dra Lizanka Marinheiro

    As disfunções sexuais femininas são problemas clinicamente significativos relacionados à  sexualidade, como questões envolvendo o desejo, excitação, orgasmo e presença de dor relacionada ao sexo. Uma das disfunções mais prevalentes entre as mulheres está relacionada à ausência ou redução do desejo sexual, que envolve sofrimento em decorrência da dificuldade de experimentar pensamentos e fantasias sexuais. Essas questões podem afetar de forma importante a qualidade de vida, a saúde geral e o bem-estar das mulheres. Com o aumento de informações baseadas em evidências, as opções terapêuticas evoluíram nos últimos anos e, entre elas, tem sido muito discutido o uso da testosterona.

    Em 2019, foi publicado um importante posicionamento sobre o uso de testosterona em mulheres, reunindo diversas sociedades médicas internacionais e apresentando diretrizes abrangentes e atualizadas. A partir da análise sistemática dos benefícios e riscos, o posicionamento aponta que a única indicação baseada em evidências para o uso de testosterona é em mulheres na pós-menopausa com ausência ou redução do desejo sexual.

    A declaração ainda faz algumas ressalvas como:

    – Apesar dos dados disponíveis não destacarem efeitos adversos graves durante o uso fisiológico de testosterona, a segurança a longo prazo não foi totalmente estabelecida.

    – É de extrema importância que seja feita uma avaliação clínica completa e que outros fatores relacionados ao problema sexual sejam identificados e abordados antes do início do tratamento com testosterona

    – O tratamento deve ser realizado apenas com formulações que atinjam concentrações sanguíneas de testosterona próximas das concentrações fisiológicas.

    Em 2021, uma diretriz sobre o uso de testosterona na prática clínica, elaborada por equipe de especialistas multidisciplinares nomeados pela Sociedade Internacional para o Estudo da Saúde Sexual da Mulher, discutiu e acrescentou alguns posicionamentos. Entre eles, foi ressaltado as evidências de benefício terapêutico moderado; ausência de efeitos adversos graves durante o uso; e segurança a longo prazo não estabelecida. A diretriz indica ainda a presença de evidências, ainda que limitadas, que apontam o uso por mulheres na pré-menopausa em idade reprodutiva tardia.

    Assim, a tomada de decisão terapêutica deve envolver uma discussão abrangente entre médico e paciente sobre os benefícios e riscos, seguindo os padrões para prescrição segura quanto à avaliação de adequação da paciente, dosagem e monitoramento.

    É importante ressaltar também que intervenções farmacológicas podem não resolver sozinhas todas as questões relacionadas aos problemas com o desejo sexual, uma vez que o desejo de uma mulher por envolvimento sexual é influenciado por diversos fatores como desequilíbrios neuroendócrinos; doenças; problemas interpessoais; questões psicológicas; aspectos econômicos, culturais e valores religiosos. Assim, a partir de um modelo biopsicossocial, as intervenções frente aos problemas do desejo sexual feminino devem integrar profissionais e abordagens terapêuticas.

     

    Lizanka Marinheiro, Md, PhD

    Endocrinolologia  Instituto Nacional da Mulher Saúde e Adolescente Fernandes Figueira -FIOCRUZ

     

    Referências:

    DAVIS, Susan R. et al. Global consensus position statement on the use of testosterone therapy for women. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 104, n. 10, p. 4660-4666, 2019.

    KINGSBERG, Sheryl A.; SIMON, James A. Female Hypoactive Sexual Desire Disorder: A Practical Guide to Causes, Clinical Diagnosis, and Treatment. Journal of Women’s Health, v. 29, n. 8, p. 1101-1112, 2020.

    PARISH, Sharon J. et al. International Society for the Study of Women’s Sexual Health Clinical Practice Guideline for the Use of Systemic Testosterone for Hypoactive Sexual Desire Disorder in Women. Climacteric, p. 1-18, 2021.